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Bosch no Brasil
20/09/2024

Bosch Brasil: 7 décadas moldando a segurança no trânsito

7 décadas moldando a segurança no trânsito

O primeiro automóvel a rodar pelo Rio de Janeiro teve vida curta. Importado de Paris em 1897, era um Serpollet, um triciclo movido a vapor. Oito dias depois de montado, envolveu-se no primeiro acidente de trânsito de que se tem notícia por aqui: o motorista — o poeta Olavo Bilac, que você deve conhecer das aulas sobre Parnasianismo no ensino médio — perdeu a direção e chocou-se contra algumas árvores. Nem o escritor nem o passageiro se machucaram, mas o carro teve perda total.

Desde então, a frota de veículos multiplicou-se. Com mais veículos nas ruas e nas estradas, o número de colisões também cresceu, e mesmo o número de mortes, certo? Certo, mas só até determinado ponto. Nas últimas décadas, o avanço na segurança veicular ajudou a frear os acidentes fatais. Em 1997, por exemplo, quando o Brasil contava com pouco mais de 20 milhões de veículos, o trânsito matou cerca de 35 mil pessoas. Em 2022, já eram 115 milhões de veículos, mas os óbitos ficaram abaixo de 35 mil.

Tamanho da frota dispara, mas número de mortes cai

Tamanho da frota dispara, mas número de mortes cai

Fontes: Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e Sistema de Informações sobre Mortalidade, Ministério da Saúde. Atenção: os dois gráficos estão em escalas diferentes

Neste texto, vamos falar sobre os avanços que ajudaram a tornar automóveis, motos e caminhões mais seguros. E mostrar quais tecnologias já disponíveis podem fazer com que o número de colisões e de mortes caia ainda mais. “A tecnologia é um pequeno anjo da guarda que vai nos proteger em situações inesperadas”, resume o diretor de engenharia na divisão Vehicle Motion da Bosch, Hílton Spiler. É justamente desses anjinhos que trataremos nesta página.

Segurança no transporte: uma preocupação milenar

O ser humano se preocupa com a segurança no transporte desde que começou a usar formas de se locomover de modo mais rápido. Andando a cavalo, por exemplo, colocava (e ainda coloca) freio ligado à boca do animal. As carroças e carruagens tinham (e têm ainda hoje) mecanismos de frenagem conectados diretamente às rodas.

Mesmo estratégias para reduzir a velocidade parecem ser bem antigas. Certas ruas pavimentadas de Pompeia, aquela cidade italiana encoberta pelo vulcão Vesúvio há 2 mil anos, têm uma sequência de pedras elevadas ligando uma calçada até a outra. As pedras não estão grudadas: há uns 20, 30 centímetros entre elas. Alguns estudiosos acreditam que a estrutura servia para diminuir a velocidade das carroças. Ou seja, eram as tataravós das lombadas. Outros acham que as pedras podem ser tataravós de outro recurso de segurança no trânsito: as faixas de pedestre.

As tecnologias que deixaram os carros mais seguros

A preocupação milenar com a segurança aumentou muito com o surgimento dos carros motorizados, bem mais rápidos que as carroças. A tecnologia que os deixava mais confortáveis e rápidos evoluiu junto com a que os deixava mais seguros. Vários itens em que hoje nem prestamos atenção, por serem muito comuns, foram surgindo ao longo do século 20.

  • 1903: Patente do cinto de segurança de dois pontos
  • 1921: Patente do retrovisor automotivo
  • 1921: Patente do encosto de cabeça no banco dos carros
  • 1935: Surgem os primeiros automóveis com farol embutido na carroceria
  • 1958: Patente do cinto de segurança de três pontos
  • 1971: Patente do airbag
  • 1978: Bosch registra patente do ABS
  • 1995: Bosch começa a produzir o controle de estabilidade (ESP)
  • 2010: Bosch lança o freio automático de emergência (AEB)

Basicamente, o principal papel de tecnologias como essas é compensar ou evitar falhas humanas, que são a principal causa da maioria dos acidentes, de acordo com registros da Polícia Rodoviária. O gerente de assuntos técnicos na Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Gilberto Martins, dá um exemplo bem ilustrativo: o cinto de segurança. Ele ajuda a reduzir o impacto de imprudências como excesso de velocidade ou reação tardia do motorista. Seu uso é mandatório no Brasil desde 1998, mas muita gente não respeita a lei. O que fez a tecnologia, então? Criou os sinais visuais e sonoros — que desde 2020 são itens obrigatórios nos carros feitos por aqui.

Mas, claro, a tecnologia pode ir muito além de emitir alertas.

Acidentes e mortes em acidentes, por tipo de causa
Fonte: Polícia Rodoviária Federal, Anuário 2022 (elaboração própria)

Por que o ABS é um grande marco na segurança veicular?

Por que o ABS é um grande marco na segurança veicular?

Muitos dos avanços na área — como o cinto de segurança e o airbag — ajudam muito a diminuir o impacto dos acidentes. Já o Sistema Antibloqueio de Frenagem (ABS) está entre as tecnologias que diminuem a própria ocorrência de acidentes. “Ele é muito importante porque evita que o acidente aconteça”, afirma Vitória Telini, que trabalha em transformação de negócios na divisão de Vehicle Motion na Bosch.

O levantamento da Polícia Rodoviária cita, entre as causas de acidentes, atitudes como não manter distância adequada do veículo da frente e frear bruscamente. O ABS age nesses casos impedindo que as rodas travem e que o carro deslize – mesmo quando o motorista pisa forte no freio. A Bosch foi a primeira empresa a patentear o mecanismo (ainda em 1936), a primeira a produzi-lo e a primeira a fabricá-lo no Brasil (2007). Em 2024, aliás, vai completar a marca de 14 milhões de ABSs produzidos aqui.

O sistema é tão importante que as autoridades decidiram torná-lo obrigatório: desde 2014, todos os automóveis montados no Brasil precisam incluir o dispositivo.

Controle de estabilidade: o mais novo item obrigatório

Outro item muito importante passou a ser exigido em 2024: o Programa Eletrônico de Estabilidade (ESP) ou controle de estabilidade. A partir deste ano, os carros feitos em território brasileiro precisam contar com o dispositivo.

  • Qual é o papel do controle de estabilidade? Essa tecnologia impede que o carro saia do controle numa derrapagem – por exemplo, se você entrou em velocidade excessiva numa curva ou se viu um cachorro ou um carro cruzando a pista repentinamente. Ao detectar situações como essas, o sistema desacelera o carro e freia uma das rodas, para levar o veículo de volta à pista. Testes feitos pela Bosch indicam que o ESP reduz em até 80% os acidentes em derrapagens.

O próximo avanço na legislação: freio automático

Mais um “anjo da guarda” da segurança veicular deve se tornar exigência a partir de 2026 no Brasil: a frenagem automática de emergência (AEB). O sistema desenvolvido pela Bosch é especialmente útil para evitar batidas traseiras e atropelamentos. Dotado de radares e câmeras, ele avisa o motorista quando detecta um veículo, um ciclista, um pedestre ou algum obstáculo à frente. Se mesmo assim o condutor não reagir, o equipamento aciona o freio automaticamente. “É uma tecnologia que deu certo, que deu benefícios, e estamos trazendo para o Brasil”, diz Hílton Spiler, da Bosch. Testes feitos pela empresa sinalizam que o AEB diminui em 72% o número de colisões traseiras.

Motos: tecnologia ajuda, mas ainda é restrita a modelos caros

Bosch brasil, Bosch 70 anos, inovação

Ao contrário do que ocorreu com os veículos em geral, o número de mortes em acidentes de motos subiu nas últimas décadas –e muito. Foram 956 óbitos em 1997 e 12.058 em 2022, segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde. Trata-se de um salto de 1.161%.

Mortes de motociclistas no Brasil
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade, Ministério da Saúde

O que explica esse aumento?

  • Frota maior: A quantidade de motocicletas cresceu muito de 1997 a 2022: de 2,54 milhões para 25,75 milhões, uma alta de 913%. Nos automóveis, por exemplo, o ritmo foi menor (254%). Porém, deve-se observar que, mesmo expressivo, o aumento da frota foi menor que o de óbitos.
  • Falta cumprir regras já existentes: “Em grande parte dos acidentes, as leis de trânsito não foram seguidas”, comenta Vitória Telini, da Bosch. Ela cita o uso de capacete e de calçado fechado – mas também a manutenção em dia do veículo, em especial freios, faróis, pneus e retrovisores. “Nem sempre se respeita o limite de velocidade, também”, aponta. Não é que os motociclistas sejam necessariamente mais negligentes que os motoristas de carro, mas é que, sobre duas rodas, o descumprimento das leis de trânsito tem efeitos mais diretos e mais graves. “O básico, se bem feito, já reduziria boa parte dos acidentes”, avalia Vitória.
  • Perfil dos motoristas: Geralmente, quem dirige moto faz parte daquele tipo de motorista que costuma se envolver em acidentes mais frequentemente: jovens do sexo masculino. Uma pesquisa na cidade de São Paulo, realizada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), indicou que os homens são mais de 96% das pessoas que andam de moto e que a maior parte dos motociclistas (cerca de 40%) tem de 18 a 19 anos.
  • Popularização das entregas: Comida, remédios, correspondências, malotes... Nos últimos anos, aumentou muito o número de motoqueiros que trabalham com entregas. Quase sempre – por exigência dos clientes, das plataformas ou do modo de remuneração – essas entregas precisam ser feitas rapidamente. Isso explica, em grande parte, o exército de motos que passam ligeiras entre os automóveis nas metrópoles brasileiras. Um exército em alta velocidade e, como é próprio das motos, menos protegido que um motorista de automóvel.

Tecnologias para aumentar a segurança das motos

Boa parte dos recursos avançados que ajudam a reduzir acidentes nos automóveis podem ser adaptados para motocicletas.

Freios ABS: A versão para duas rodas do sistema que não deixa os freios travarem existe há muito tempo. A Bosch lançou-a em 1988. A tecnologia, inclusive, é obrigatória no Brasil desde 2019 – mas apenas para motocicletas com mais de 300 cilindradas, que são menos de 20% do mercado, segundo balanço da associação brasileira do setor, a Abraciclo. “Vários estudos mostram que o uso de ABS em motos abaixo de 300 cilindradas poderia fazer muita diferença na quantidade de acidentes”, afirma Vitória Telini. “O ABS é obrigatório para motos acima de 125 cilindradas na União Europeia e mesmo na Índia, que tem um mercado muito similar ao nosso”, destaca. O dispositivo é muito útil, por exemplo, em partes escorregadias, como faixas de pedestre.

Sistemas à base de câmeras e sensores: Grande parte das tecnologias que recorrem a câmeras e sensores nos carros de passeio pode ser adaptada para as motos, segundo Hílton Spiler. “A câmera e o radar frontal, usados na frenagem automática de emergência (AEB) e outros sistemas, já estão disponíveis para esse segmento”, diz ele. “Não só estão disponíveis como já existem, já foram aplicados, mas em geral em motos com maior valor agregado.”

Caminhões: idade da frota reduz impacto do avanço tecnológico

Caminhões: idade da frota reduz impacto do avanço tecnológico

O número de óbitos de caminhoneiros aumentou no começo do século 20, mas estabilizou-se desde então. Em 1997, foram 312 mortes; em 2022, 806, um salto de 158%. Nesse período, a frota de caminhões cresceu em ritmo um pouco maior (163%). A quantidade de acidentes mantém-se em torno dos 800 por ano desde 2011.

Porém, os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde não captam o impacto dos acidentes de caminhões em ocupantes de outros tipos de veículos. Sabe-se que, por eles serem maiores e mais pesados, as colisões entre caminhões e carros costumam ser duas vezes mais fatais do que entre dois carros, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal.

A boa notícia: tecnologias dão salto de qualidade na segurança

Assim como ocorre com as motocicletas, grande parte das tecnologias de segurança são adaptadas para os veículos pesados. “Radares, câmeras, sensores podem ser usados para fazer funções análogas as que têm em veículos de passeio”, compara Vitória Telini. O ABS e o controle de estabilidade, por exemplo, também são obrigatórios para caminhões. “Na Europa, muitas das regras foram exigidas primeiro para caminhões, por causa do impacto social dos acidentes com grandes veículos.” Ela destaca alguns recursos que podem ter maior efeito:

  • Freio automático de emergência: O funcionamento é muito similar ao dos automóveis: o sistema corrige a rota do veículo quando detecta que ele está saindo de seu curso.
  • Assistente de permanência na faixa: A Bosch desenvolve o produto para todos os tipos de veículos. Por meio de câmeras, o sistema monitora as marcações da pista; se percebe que o veículo está para mudar de faixa sem dar seta, emite um alerta sonoro. Se mesmo assim o motorista não corrigir o rumo, o dispositivo faz isso automaticamente. Trata-se de uma função com grande utilidade para evitar acidentes provocados por cansaço ou rápida sonolência (assista ao vídeo sobre o sistema).
  • Alerta de ponto cego: Um conjunto de radares e sensores monitora a área ao redor do veículo; quando nota a aproximação de outros veículos, acende um alerta no retrovisor; se mesmo assim o motorista continuar em direção ao veículo do lado, dispara um alerta sonoro (assista ao vídeo sobre o sistema de alerta). “É algo que pode ser usado em carros, mas num caminhão é muito mais importante, porque os veículos desse tipo têm muito mais pontos cegos”, observa Vitória.
  • Detecção de sonolência: Diferentemente dos anteriores, neste sistema os sensores e as câmeras estão voltados para o interior do veículo – especificamente, para o motorista. A tecnologia monitora vários sinais de cansaço ou fadiga (como comportamento dos olhos e da boca) e, quando reconhece sinais de sonolência, emite sinais visual e sonoro recomendando uma parada de descanso.

A má notícia: a frota de caminhões ainda é antiga

Ainda que tecnologias relevantes já sejam lei – ou ainda que esses avanços mais recentes também entrem na legislação –, o impacto é mais lento nos caminhões. Grande parte dos que rodam pelo Brasil foi fabricada há mais de uma década. “Esse é um problema para automóveis, mas mais ainda para caminhões. Hoje, a frota de caminhões tem em torno de 12 anos, é antiga”, comenta Gilberto Martins, da Anfavea.

Para contornar essa questão, ele defende inspeção técnica veicular, que seria exigência no Brasil, mas acabou suspensa. “Sem ela, não adianta colocar tecnologia no veículo, não adianta acertar as estradas, se a gente não sabe em que condições o veículo está rodando. Ele tem farol? Tem pneus que não estejam carecas?”, defendeu Martins. “A vistoria é fundamental para prevenir acidentes”.

Perspectivas futuras: podemos sonhar com zero morte no trânsito?

Muitas organizações, empresas e governos aderiram à abordagem Visão Zero, segundo a qual nenhuma perda de vida no trânsito é aceitável. Nascida na Suécia, ela já chegou ao Brasil, aponta Gilberto Martins. O princípio é de que os seres humanos cometem erros e que o sistema de transporte deve ser concebido de forma a prever esses erros e diminuir o impacto deles. Estamos muito longe disso?

Nem tanto. Ao menos três tendências tecnológicas já existentes podem fazer esse projeto virar realidade.

  • Conexões 5G: Já existentes em parte do Brasil, elas podem representar “um grande salto na segurança”, avalia Hílton Spiler. Com interações mais rápidas e carros conectados, alertas de perigo de trânsito serão transmitidos de modo ágil. “Os veículos vão se comunicar entre si e com os equipamentos de trânsito, como semáforos”, prevê o diretor da Bosch.
  • Veículos autônomos: Muitas das tecnologias citadas neste texto já reduzem a participação do motorista em situações de maior risco – como ocorre na frenagem automática de emergência. “Estamos tirando o fator humano da jogada. Já estamos automatizando os veículos”, observa Martins. Com o advento dos veículos autônomos, o número de acidentes tende a cair muito. A Bosch é protagonista nesse processo: a empresa está ensinando os carros a dirigirem.
  • Inteligência artificial: Veículos autônomos e tecnologias que automatizam certas tarefas antes exclusivas do motorista (como frear ou estacionar um carro) requerem análise de inúmeros dados. “A inteligência artificial aumenta muito nossa capacidade de coletar e analisar dados. Ela está sendo usada no processo produtivo para acelerar o desenvolvimento de itens de segurança”, explica Valéria Telini. “A IA potencializa o aprendizado do sistema para que, por exemplo, ele possa detectar do modo mais apurado possível os vários tipos de comportamento.”

Quer saber mais sobre o assunto? Confira nosso Podcast sobre o tema.

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