Mobilidade Sustentável
Um apelo pela neutralidade de CO₂
Dirigir por aí sem consumir energia permanecerá no reino da fantasia. Mas dirigir por aí sem emitir CO₂ está dentro do reino das possibilidades.
Para que isso aconteça, no entanto, as soluções inovadoras precisam competir entre si para encontrar o powertrain que ofereça a maneira mais ecológica de veículos. Somente uma visão ampla e imparcial do que é possível na tecnologia irá estimular a solução necessária para resolver problemas, não importa quão complexos.
Soluções mais neutras ao meio ambiente
Uma empresa de tecnologia que leva a sério a ação climática deve ser guiada por uma avaliação imparcial e ampla que é possível. A Bosch já está dando um grande passo à frente ao tornar suas unidades em todo o mundo neutras em CO₂ desde 2020. Mas, no final das contas, a questão não é apenas de localidade. Todas as soluções são pensadas e feitas com a mesma lógica: o mais neutro em carbono possível.
75 por cento
dos carros novos ainda terão motores de combustão, em 2030.
O que a indústria automotiva pode fazer
Tal empreendimento começa com uma percepção sensata. As emissões de CO₂ dos veículos da Europa aumentaram 22% desde 1990. Eles atingiram seu pico em 2007. E embora os níveis de emissões tenham caído desde 2007, cumprir o acordo climático de Paris significaria tornar os veículos europeus neutros em carbono até 2050.
O que a indústria automotiva pode fazer? Pode apresentar alternativas e comercializá-las. Essas alternativas incluem a eletromobilidade, de baterias até células de combustíveis. No entanto, uma mente ampla e imparcial do que é possível na tecnologia também significa ver os motores de combustão modernos como parte da solução. Na verdade, eles têm que ser parte da solução, uma vez que ainda estarão equipando três quartos de todos os carros novos em todo o mundo em 2030, com apenas um quarto sendo movidos exclusivamente por eletricidade. Ao mesmo tempo, os motores a diesel e a gasolina podem ser amplamente hibridizados e suas emissões de CO₂ reduzidas de seu nível atual por mais de 100 a 20 gramas por quilômetro.
Conceito da intensidade de carbono – poço-à-roda
O conceito poço-à-roda permite determinar a chamada pegada de carbono de veículos considerando não apenas as emissões de CO₂ durante sua utilização, mas também aquelas ocorridas na produção e distribuição da energia utilizada.
Esta forma abrangente de contemplar toda a cadeia revela por exemplo, que combustíveis sintéticos renováveis podem tornar o uso dos motores de combustão interna neutros na emissão de CO₂. Por outro lado, veículos elétricos só contribuem para a descarbonização da atmosfera quando carregados com energia elétrica gerada a partir de fontes não fósseis.
No contexto brasileiro, a existência dos biocombustíveis, da infraestrutura de distribuição, da frota Flex fuel e da matriz elétrica predominante de hidrelétricas se combinam como uma excelente solução para redução dos gases de feito estufa com menor custo para a sociedade sejam em veículos a combustão flex ou híbrido flex.
Evitando efeito rebote
No final das contas, trata-se de colocar todas as nossas cartas na mesa e apresentar todos os fatos sobre a cadeia energética, bem como o consumo real na estrada, e não apenas em um ciclo de teste padrão. Quando uma clareza como essa atinge metas ambiciosas, o resultado é uma corrida para inovar, ao invés de um viés político em direção a uma determinada tecnologia, seja motor de combustão ou motor elétrico. A clareza nos permite ter a mente aberta e ampla sobre as soluções tecnológicas disponíveis, e essa abertura promove a competição para encontrar as melhores soluções.
Tal mente aberta pode alterar a precificação do carbono - na forma de um imposto sobre as emissões de gases de efeito estufa, por exemplo. Uma sobretaxa de CO₂ neutro em termos de tecnologia poderia pelo menos evitar os efeitos rebote causados por subsídios desequilibrados. Promover deliberadamente carros elétricos, por exemplo, poderia causar o colapso da demanda por veículos menos procurados. No entanto, a lei da oferta e da procura significaria que seus preços cairiam até que a demanda aumentasse novamente. Como vemos, pode ser contraprodutivo para os formuladores de políticas agirem contra o mercado.
Construindo uma economia de hidrogênio
Dito isso, a economia da ação climática não é uma questão simples. Como é bem conhecido, os custos de prevenção do CO₂ variam amplamente de indústria para indústria e são significativamente mais baixos na geração de energia do que no transporte. Em outras palavras, a precificação do CO₂ por si só não trará neutralidade climática em todos os setores da economia. Precisa ser apoiado por outras medidas. A receita de um imposto CO₂ também poderia ser reinvestida na transformação do transporte.
Uma visão aberta e ampla para a tecnologia permitiria a coexistência de pelo menos duas abordagens para a modernização do powertrain: a primeira, de melhorar a infraestrutura de recarga para eletromobilidade e, a segunda, de estabelecer uma economia de hidrogênio. Isso não seria promover uma determinada tecnologia. Em vez disso, poderia criar as condições de infraestrutura para a competição entre tecnologias.
Fechando a lacuna com combustíveis sintéticos
No ritmo atual de progresso, a eletrificação dos veículos não será suficiente para cumprir as metas climáticas para 2030. Essa foi a conclusão recentemente feita pela plataforma nacional para o futuro da mobilidade, na Alemanha. No entanto, o Ministério dos Transportes da Alemanha identificou uma “lacuna climática” para a próxima década, que terá de ser preenchida por, entre outras coisas, cerca de três milhões de toneladas de combustíveis alternativos. Portanto, precisamos tanto da eletromobilidade quanto de combustíveis sintéticos renováveis. Quando o transporte aéreo for obrigado a se tornar neutro em carbono, não haverá como evitar a necessidade de novos tipos de combustíveis. É disso que se trata uma visão ampla e imparcial do que é possível na tecnológica: fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para trazer novas soluções a favor das ações climáticas.
Dr. Volkmar Denner, CEO Bosch