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Bosch no Brasil
10/07/2024

Economia circular: Programa Recicla Auto Partes visa impulsionar a economia circular no setor automotivo

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Desde o início da década de 70, a ONG Global Footprint Network calcula o dia em que o planeta termina de gastar todos os recursos que é capaz de gerar ao longo de um ano. Em 1971, isso ocorreu no finalzinho: 25 de dezembro. Em 2023, 2 de agosto – ou seja, atingimos o limite nesse dia, e até o fim do ano estamos no vermelho, usando o “cheque especial” da Terra.

Desse jeito, não há meio ambiente que aguente. A população cresce, a economia cresce, a demanda por comida e matéria-prima cresce, mas o planeta continua do mesmo tamanho. Suprir os padrões de consumo da humanidade requer mais do que um planeta e meio – exato 1,75 planeta Terra, segundo a mesma ONG.

Para não esgotar todos os recursos, ou seja, para garantir nossa própria sobrevivência no médio e longo prazo, é fundamental mudar o modelo de consumo e produção. Uma das formas de tomar essa direção é acentuar práticas de economia circular.

Neste texto, você verá o que é economia circular, como ela se relaciona com outros conceitos (como logística reversa e ESG), porque ela é importante e como ela pode ser aplicada ao setor automotivo.

O que é economia circular?

É um conceito que se contrapõe ao modelo tradicional, chamado de economia linear. Vale a pena diferenciar os dois:

  • • Economia linear: o fluxo é formado pelas seguintes etapas: extração de recursos naturais, transformação da matéria-prima em produtos, venda, consumo e descarte. Ou seja, trata-se do modelo predominante há muitas décadas. Como a maioria dos recursos naturais é limitada, o resultado é degradação ambiental, perda de biodiversidade, emissão de poluição e agravamento das mudanças climáticas.
  • • Economia circular: como indica o nome, a ênfase é num modelo de desenvolvimento baseado em reaproveitamento e redução do desperdício. Suas metas principais são diminuir a extração de recursos naturais, evitar resíduos, deter a poluição e promover o uso consciente. Idealmente, desde a concepção os produtos seriam fabricados de forma que, ao final de seu ciclo, virassem nutriente ou (quando não biodegradáveis) fossem reaproveitados ou remanufaturados.

Sabe a metáfora do cheque especial, no início deste texto? A ideia da economia circular seria parar de gastar a mais (consumindo apenas o que o planeta consegue renovar) e formar um saldo positivo (recuperar os recursos já degradados).

recursos naturais que são reabastecidos sem que haja a exploração do homem.

No aspecto econômico, as fontes de energia renovável podem reduzir significativamente as tarifas de gás e eletricidade para a população.

Para os municípios, isso pode significar uma queda expressiva dos custos com iluminação pública, de edifícios públicos e demais processos que demandam energia, como o bombeamento de água, entre outros. O uso de fontes renováveis de energia representa um custo menor a longo prazo, além de ser bom para o planeta.

A economia circular e outros temas de sustentabilidade

economia circular

O conceito tem relação com outros temas importantes da sustentabilidade (como reciclagem, logística reversa e ESG), mas não se confunde com eles. Veja o que aproxima e o que distancia cada um desses pontos.

Economia circular e reciclagem

Reciclar é transformar resíduos em novos materiais ou em matéria-prima para produção de novos itens. Porém, para essa transformação ocorrer gasta-se energia, às vezes emitem-se gases que agravam o efeito estufa. Na concepção da economia circular, a reciclagem é uma falha de projeto, uma saída que se adota quando alternativas não dão certo (reaproveitar, remanufaturar). Mas, claro, é melhor reciclar do que simplesmente descartar – e o Brasil precisa avançar muito nesse sentido: apenas 4% dos materiais recicláveis são de fato reciclados.

Economia circular e logística reversa

A logística reversa é uma estratégia fundamental para o conceito de economia circular. Ela é responsável por fazer os produtos destinados ao consumidor final voltarem para o processo de fabricação – ou, pelo menos, para reciclagem, eventual descontaminação e descarte adequado. É um dos pilares da Polícia Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010). No entanto, a economia circular abrange questões não necessariamente incluídas na logística reversa, como a redução de emissão de poluentes em todas as etapas, inclusive no transporte.

Economia circular e ESG

ESG é uma sigla, em inglês, para práticas ambientais (Environmental), sociais (Social) e de gestão (Governance). Surgiu no meio corporativo, em especial no meio financeiro, para estimular uma visão que fosse além do desempenho econômico, do lucro. Trata-se de um conceito que ora se aproxima, ora de distância da economia circular.

A primeira letra da sigla, ligada a meio ambiente, tem ligação estreita com a economia circular, embora esta enfatize mais fortemente a necessidade de evitar o uso de novas matérias-primas. Já as outras duas letras – que remetem a preocupações sociais e de gestão – salientam diretamente aspectos para os quais a economia circular não dá tanto destaque. Por exemplo: é muito mais comum haver debates sobre combate à corrupção em fóruns de ESG (é um dos temas ligados a governança) do que em fóruns de economia circular. Por outro lado, a reciclagem pode ser muito valorizada como prática ambiental no ESG, embora não seja vista como ideal em algumas concepções de economia circular.

Vale frisar, porém, que os dois conceitos podem se complementar. A adoção de estratégias de economia circular tem grande potencial de gerar empregos e benefícios sociais, por exemplo. Do mesmo modo, a adoção eficiente da economia circular requer governança bem-feita, pois pressupõe uma reorganização completa do modelo de produção, da relação com fornecedores e com clientes.

Por que a economia circular é importante?

Porque cada vez mais o planeta dá sinais de esgotamento. O clima está mudando numa rapidez nunca vista na história humana, com impactos na biodiversidade, na emissão de gases do efeito estufa e na poluição. Continuar com o padrão atual – produzir, consumir e descartar – é a receita para agravar problemas que já provocam grandes danos à humanidade, sobretudo aos mais pobres e mais vulneráveis.

Estamos nesse caminho, infelizmente. A circularidade da economia mundial recuou nos últimos anos: era de 9,1% em 2018, caiu para 8,6% em 2000 e para 7,2% em 2023, segundo o Circularity Gap Report, maior referência na área. “Aumentar o consumo de recursos nem sempre resulta em melhores condições para as pessoas, na medida em que degrada os próprios sistemas de que dependemos para viver. A economia do ‘pegar-fazer-desperdiçar’ esgota os recursos naturais, ameaça a sobrevivência de espécies, carrega o solo e a água com elementos tóxicos e aquece perigosamente a Terra”, resume o relatório.

O que afeta essa eficiência são fatores como o desempenho de equipamentos, a rotina operacional, o sistema de iluminação e refrigeração, e o uso disciplinado no consumo de energia elétrica.

Cabe ressaltar que a eficiência energética também impacta a qualidade do ar, já que reduz as emissões de gases de efeito estufa derivados da demanda da matriz energética. Com isso, também é possível minimizar os impactos negativos decorrentes das mudanças climáticas e os prejuízos à saúde das pessoas, causados pela poluição. 

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, sustentabilidade não custa caro. Em geral, os investimentos iniciais em determinadas tecnologias se pagam em pouco tempo pela economia que proporciona. Além disso, o mundo ainda ganha uma nova visão do mercado pela sua responsabilidade com o meio ambiente — e isso sem contar a grande contribuição com o planeta.

Por que a economia circular é especialmente importante no setor automotivo?

economia circular

Um automóvel é composto por mais de 10 mil peças. Muitas são feitas de materiais que demoram décadas ou séculos para se decompor, como plásticos e borracha. Outras, se largadas ao tempo sem cuidado, vão gerar resíduos que contaminam o solo, como ferrugem, óleo e elementos químicos de filtros e baterias. É o que por vezes acontece em ferros-velhos e pátios de carros abandonados, quando mal geridos. Essa contaminação pode chegar ao lençol freático e colocar em risco a vida de plantas e animais, inclusive dos humanos. Além disso, as carcaças automotivas são locais propícios para a procriação de pragas, como ratos e insetos – inclusive o Aedes aegypti.

Mas não se trata apenas de uma questão de saúde. O descarte estimula a produção de novos componentes, o que gera emissão de gases-estufa. No Brasil, apenas 1,5% das carcaças são recicladas, segundo o Sindicato das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Sindinesfa). Em vários outros países esse número é bem maior, como Espanha (92,4%), Alemanha (93,6%) e Países Baixos (98,5%).

Um exemplo de economia circular no setor automotivo

Frequentemente oficinas mecânicas recorrem ao mercado informal de desmanches e ferros-velhos para vender autopeças fora de uso. Embora isso gere certa receita para os estabelecimentos, não garante a destinação correta dos produtos – ocorre a perda de rastreabilidade desse material e não há como saber se foram reaproveitados como poderiam, de modo a manter a qualidade ou se foram despejados em local irregular. É um risco para as oficinas, para as fabricantes (sobretudo se forem penalizadas pelo destino de seus produtos), para a sociedade e planeta.

Para contribuir com questões tão urgentes, a Bosch desenvolveu no Brasil um programa de economia circular. Chamado Recicla Auto Partes, ele é direcionado a oficinas da rede Bosch Car Service. O programa recolhe sucatas automotivas e garante aos estabelecimentos que os resíduos coletados pelos parceiros logísticos sejam posteriormente reinseridos na cadeia produtiva ou eventualmente encaminhados para descarte ambientalmente correto”.

O programa atualmente abrange 34 oficinas com expectativa de expansão ao longo dos próximos anos. O programa já coletou 76 toneladas de resíduo automotivo gerando um saving de 164 toneladas de CO2 que contribuem para reduzir a pegada de carbono. O objetivo do programa no momento, é expandir para novos Bosch Car Services, aumentar o número de coletas realizadas pelas oficinas já cadastradas e incentivar a circularidade de mais autopeças usadas no mercado, promovendo de maneira contínua a economia circular no setor automotivo.

O programa Recicla Auto Partes é uma amostra da cultura de economia circular que vem sendo cultivada e fomentada ao longo do tempo na Bosch, queremos intensificar nossa contribuição ampliando esta inciativa nos próximos anos

Stenio Freitas - Gerente do projeto Recovery

A economia circular tem como valor a colaboração, por isso, o time do programa Recicla Auto Partes está constantemente buscando construir uma cadeia colaborativa, disseminando a ideia no setor automobilístico e obtendo novos parceiros para estender os ganhos socioambientais

Hervelly Ferreira, chefe de Sustentabilidade da Bosch América Latina.

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